"O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica." - "Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria." 1Cor. 8:1,2

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Eu também choro ao ouvir um evangelho sem Cruz.

"Pois, como já lhes disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo". Fl 3:18
     Eu não saberei ser preciso em elaborar agora uma lista na qual constariam as principais coisas ou acontecimentos que fizeram o apóstolo Paulo chorar. Neste momento eu tenho a certeza de uma delas, que é possível que seja a primeira da lista, caso fosse possível elaborá-la agora:

1. "A AUSÊNCIA DA CRUZ NA PREGAÇÃO DO EVANGELHO"

     O evangelho que não tem a Cruz como referência para um memorial e para um estilo de vida, não é o verdadeiro Evangelho; é um outro evangelho; é o "evangelho das coisas perecíveis".
     Num certo sábado do mês de junho deste ano (2011), eu tive a infelicidade de chorar; não porque chorar é ruim, muitas vezes é bom e necessário, mas chorei por não conseguir detectar a mensagem da cruz na pregação de um pregador famoso no Brasil e no exterior. Este, veio diretamente de Salvador para a minha cidade. Não houve nem ao menos uma subliminar ou indireta referência a Cruz nas praticamente duas horas de explanação.
     Eu sou apaixonado pela pregação, tanto para pregar quanto para ouvir. Eu vibro quando vejo um pregador respeitando o contexto histórico-cultural, a revelação progressiva e quando o mesmo não vai além ou aquém da revelação escrita. Se o tal for erudito, maravilha!, mas se o mesmo apresentar uma homilia simples, mas fiel aos desígnios de Deus revelado pelas Escrituras, também fico muito feliz. 
     O que me entristeceu foi a maneira absurda e antropocêntrica que o supracitado utilizou um texto bíblico para pregar a um auditório composto por mais de mil pessoas.  O que angustiou mais ainda a minha alma foi detectar que a maioria dos ouvintes vibravam com as "verdades reveladas" no púlpito.  Tomavam veneno pensando que era remédio. Eis aqui alguns princípios ensinados pelo famoso pregador (pregador X) a centenas de pessoas sedentas por um alimento espiritual:
  • "Querer ser mais famoso e melhor do que o seu próximo não é pecado !". Pregador X
     "Eliseu pediu a porção dobrada do espírito de Elias porque queria ter o dobro da sua fama."  disse o pregador baseado em 2 Reis 2:9.
       Refutação: Eliseu com este gesto jamais pensava em fama. No contexto histórico a fama como profeta de Deus estava diretamente proporcional ao risco de se ter a cabeça decepada.  O que Eliseu realmente queria era um poder maior de ousadia que o ajudaria a enfrentar o poder satânico que estava por trás do trono de Israel. Ele sabia que a porção dobrada do espírito de Elias o ajudaria a completar a sua missão e a salvar a sua pele. O contexto bíblico ainda revela que marketing pessoal e ganância não eram  princípios do profeta Eliseu. Vejam como ele tratou o general Naamã e como recusou o seu presente pelo serviço prestado. (2 Rs 5).
      Foi torturante ouvir o tal pregador ensinando ao povo meios de "passar a perna" nos outros e zombar da simplicidade dos humildes.


Remédio cristão para este tópico baseado na mensagem da Cruz de Cristo:
 "Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!" Fl 2:3,5-8
  • "Você também pode profetizar o que deseja que aconteça !" pregador X.
     
     Refutação: Naquele momento o tal pregador anunciou que revelaria algo especial que poucos sabiam: "_Nós temos autoridade para profetizar o que nós desejamos". Ele ilustrou uma experiência pessoal na qual tocou sobre um automóvel de luxo e "profetizou" que o objeto lhe pertenceria. Isto não seria cobiça? Na hora eu me lembrei de uma outra mensagem de sua autoria na qual ele afirmou que entrou numa loja e profetizou a falência do dono daquele estabelecimento para enfim, comprá-lo. Que coisa terrível! Utilizar um fato em que Eliseu amaldiçoa alguns zombadores para ensinar ao povo uma doutrina irresponsável e antibíblica é loucura.

Remédio cristão para este tópico baseado na mensagem da Cruz de Cristo:
"Nem todos são profetas" 1Co 12:29
"Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo." 2Pe 1:20-21
 O objetivo especial da profecia:
"Mas se entrar algum descrente ou não instruído quando todos estiverem profetizando, ele por todos será convencido de que é pecador e por todos será julgado, e os segredos do seu coração serão expostos. Assim, ele se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus, exclamando: "Deus realmente está entre vocês!" 1Cor 14:24-25 NVI
  • "Eliseu retornou para Suném cabisbaixo porque o Senhor ainda não o havia recompensado com a fama !" pregador X
      O pregador X também ensinou baseado em 2 Rs 4:8-10 que o motivo da passagem do profeta em questão por Suném era a falta de reconhecimento que o mesmo padecia em seu ministério. O mesmo categoricamente alegoriza e correlaciona os seguintes objetos conf. o texto como uma mensagem de Deus ao profeta "desfalecido": cama (descanso para esperar a fama chegar), mesa (provisão), cadeira (exaltação na posição pretendida) e candeeiro (Espírito Santo). A minha náusea aumentou quando o mesmo disse a todos que poderiam também descansar, pois o Senhor estava preparando uma cadeira para a exaltação de cada indivíduo presente. Muitos foram ao delírio.

     
      Refutação: Um dedicado estudioso da Bíblia sabe que não se pode alegorizar todas as coisas, e também está atento ao contexto imediato e remoto.
      O profeta Eliseu já havia anteriormente sido um tremendo instrumento nas mãos de Deus para agir na campanha de Jorão e Josafá contra Moabe e para ajudar uma viúva (2Rs 3;4:1-7).  É um paradoxo conciliar um profeta fracassado com o contexto.
     Alegorizar simples utensílios básicos de um quarto é violentar todo um contexto para insuflar o ego dos indefesos ouvintes. A essência era a exaltação humana a uma posição cobiçada, ao invés dos adoradores exaltarem o nome do Senhor.

Remédio cristão para este tópico baseado na mensagem da Cruz de Cristo:
"... agora também digo chorando ...que são inimigos da cruz de Cristo. ...o seu deus é o estômago e cuja glória é para confusão deles; eles só pensam nas coisas terrenas.
Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo." Fl 3:18-20 ACF
     Klaíon é o verbo grego traduzido por "chorando" e que significa clamar em voz alta (cf. Chave Linguística do Novo Testamento Grego - pg.414 - ed. Vida Nova ), numa ênfase a uma profunda tristeza sentida pelo apóstolo por ocasião da degradação do Puro Evangelho pelos falsos pregadores.        A mesma Chave Linguística define o grego Koilía como "estômago" - termo genérico para incluir tudo que pertence essencialmente à vida material, corporal e que, portanto, perecerá inevitavelmente.  
     Ora, o texto bíblico está claramente definindo os pregadores do evangelho das coisas perecíveis como servos do deus "estômago", e não do Deus da Cruz. Estes jamais irão ensinar o povo sobre a cidadania celestial e sobre a esperança da vinda do Senhor (Fl 3:20). Os tais também saberão escolher as palavras adequadas distorcendo os textos bíblicos para iludir os ouvintes; são inimigos da cruz de Cristo:
"Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios estômagos. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam os corações dos ingênuos." Rm 16:18
     Eulogía é a palavra grega no versículo acima para definir "bajulação". São palavras bem escolhidas - mas falsas; é a falsa eloquência através de palavras de louvor que agradam ao auditório, e como agradam...
      Como você imagina a minha pessoa assentada numa poltrona ouvindo sobre estes tópicos e muito mais? Foram sucessivas náuseas emocionais e espirituais. Até mesmo pensei que estava me tornando num "monstro". Comecei a aborrecer o dia em que comecei a perscrutar as Verdades bíblicas; era melhor nada saber e fazer parte do todo da platéia. Fui embora antes do término. A mensagem não me edificou, e sim me desmoronou. Deus é testemunha quando em pensamentos odiei o meu pouco conhecimento. Eu passava naquele momento a me rotular como um "chato" e exigente em excesso. Comecei a "viajar" mentalmente pela revelação progressiva da Bíblia de Gênesis a Apocalípse e não encontrava fundamento para tanta discrepância teológica do pregador X. Aquela noite de sábado foi massacrante para mim. Eu acredito que para muitos outros cristãos também. O meu lanche noturno se tornou insípido. A minha alma chorou e a minha esposa percebeu a perturbação em minha face. Enfim, como filho de Deus dormi - já era início do domingo.
       Mas, nada melhor como um dia após o outro, assim diz o ditado.
     Após uma estafante noite sabatina, e um belo dia de domingo, eu pude experimentar a ressurreição das minhas convicções e dos meus moderados conhecimentos bíblicos.
      Naquela noite de domingo fui ao culto ansioso pela Palavra. Eu já desconfiava que coisa boa viria, pois o tal famoso pregador X havia partido. O  pregador em questão era o pastor Antônio Rocha. O texto áureo foi:

"Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé. Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça." Rm 1:16-18
     Eu confesso que logo na leitura deste texto os meus olhos lacrimejaram; enfim, o Evangelho da Cruz seria pregado. Eu tentei disfarçar ao máximo a minha emoção. O pregador discorreu categoricamento sobre o poder de Deus pelo evangelho de Cristo. O mesmo não deixou de falar sobre o escândalo da cruz para os judeus e sobre a loucura da mesma cruz para os gregos. Para mim, o clímax da homilia foi a seguinte declaração:
"Pelo Evangelho de Cristo há poder para salvação da alma, da família, das finanças e da saúde" 
      Após o convite (sem apelação) aos incrédulos para a aceitação do Evangelho da Cruz, eu presenciei dezenas de pessoas se rendendo chorando aos pés de Cristo.  Não passou imune dos meus olhos um rapaz parrudo, chorando como criança, sendo conduzido ao púlpito por sua emocionada e exultante esposa. Eu também derramei lágrimas naquele momento, e ao relatar isto, novamente me emociono.
      A minha alma chorou de tristeza no sábado, ao ouvir um evangelho das coisas perecíveis; mas a minha alma também chorou no domingo, mas agora de exultação, ao ouvir a mensagem da Cruz adicionada a uma homilia.  Foi inevitável a minha subida ao púlpito para felicitar o pregador pela homilia apresentada.
      É possível pregar todos os desígnios de Deus e manter o evangelho da Cruz adicionado a prédica. A Cruz é a essência da santidade na piedade cristã e o altar-memorial eterno do sacrifício vicário (Fp 2:8) . Pela Cruz fomos reconciliados com Deus (Ef 2:16). Nela nos tornamos abnegados em todas as coisas ou negócios (Mt 16:24). Por outro lado, para os que estão perecendo, a Cruz é uma loucura para o sistema corrompido, mas para nós ela é o poder de Deus (1 Cor. 1:18).
      Muitos pregadores desejam causar uma boa impressão exteriormente, esvaziando os seus sermões da responsabilidade do discípulo em carregar a sua cruz e da glória que isto significa. Isto gera um subcristianismo.
     Alguém disse certa vez que o maior inimigo do cristianismo não é o Diabo, nem o sistema corrupto, nem tampouco os perseguidores algozes, mas sim o subcristianismo.  Ele degrada, degenera, desestrutura, infecta e mata o indivíduo pela retenção do puro alimento da Verdade.
     Para terminar, afirmo e reafirmo que eu não vou desistir de pregar a mensagem da Cruz.  Eu também sei que não estou sozinho, pois muitos estão aptos a não negarem o verdadeiro evangelho, mesmo debaixo das perseguições. O evangelho da Cruz para mim é inegociável e  incontaminável em sua pureza e simplicidade.
     Que Deus nos ajude a sermos despenseiros fiéis da revelação da Verdade.


     Pb. Edilson Silva